Donas de casa

23.2.11
Dizia, então, que não levei comigo o Mrs Dalloway para o hospital e como tal não tinha nada inteligente a acrescentar. A verdade é que quando as maleitas se achegam vai-se toda a espirituosidade (e assim de repente não sei de onde surgiu semelhante palavreado, mas agora fica) e, além disso, não tenho a certeza de estar a gostar do livro. Mas, há que dizê-lo, a senhora Woolf tem-me pelo beicinho e não há coisa que leia dela que não fique a marinar na alma.
Logo no início do livro, por exemplo, quando a Mrs. Dalloway vai comprar flores, dei por mim a pensar numa personagem de um conto da Clarice Lispector (fantástica a coincidência do nome, certo?). Já procurei o livro em todas as estantes e não o encontro, mas lembro-me perfeitamente da mulher desse conto (Amor), a Ana, que vai às compras com um saco feito de rede e às tantas os ovos que vão lá dentro acabam esmagados, tal como ela perante a visão de um cego a mastigar chiclete. E acho que me lembrei disso, enquanto lia o Mrs Dalloway, porque ambas as mulheres são donas de casa e servem-se das rotinas associadas a esse modo de vida para não enlouquecer. E acho extraordinário que ser dona de casa no Brasil (Rio de Janeiro?), nos anos 50/60; em Londres, nos anos 20 e em Lisboa no início do século XXI seja quase a mesma coisa.

Sem comentários:

Enviar um comentário