Basicamente os computadores e a internet existem para destruir a harmonia do lar

13.12.11
Deve ser possível fazer uma lista das coisas que preciso de fazer no computador e destinar uma hora ou duas para isso, em vez de ter o computador ligado todo o dia e vir aqui vinte vezes durante dez minutos, no máximo. Mas não sei porquê acho que se o fizer vou desperdiçar parte dessa(s) hora(s) a fazer outras coisas que não as que preciso. Ou seja, é mais ou menos como quando andava na escola: se eu não estudasse muito tinha uma boa desculpa para as notas medianas. Agora, como não estou mais do que dez minutos seguidos no computador é normal que não consiga fazer o que preciso.
Por outro lado, acho que funciono melhor assim:

[interrupção para fazer de conta que adormeço o mais velho ao colo e para o deitar no chão e dar-lhe muitos beijinhos]

Estou a estender roupa e lá está o bando de pássaros com um canto estridente e ao mesmo tempo melodioso e eu a pensar "serão melros?" e sem saber como já saí da janela e já estou a abrir o computador para confirmar. Ou leio uma frase que me faz lembrar qualquer coisa e decido escrevê-la no blog.Ou estou à espera de um e-mail

[interrupção para o sentar no sofá com um brinquedo e dizer-lhe para esperar um bocadinho que a mamã está quase a acabar uma coisa no computador]

e acho que se vier abri-lo muitas vezes chega mais depressa. Ou lembro-me que era giro ver o resultado de juntar as várias frases que ficaram a fazer eco (uma da Pilar del Rio, no documentário do Miguel Gonçalves Mendes;outra da Allison Janney no filme do Todd Solondz, outra do Lars Gustafsson, neste livro) e vou à procura delas no youtube, ou no livro....

[interrupção para montar uma tenda, dar a sopa ao mais novo que acabou de acordar, partir uma maçã em gomos e desfazer outra com a varinha mágica]

Enfim, tenho a sensação que faço mais coisas assim do que se estivesse sentada ao computador durante algum tempo, mas sou capaz de estar redondamente enganada.

[interrupção para gritar "Pára lá com isso, vais partir o copo". "Não grites". "Cuidado, assim magoas o Nicolau"]

E provavelmente seria mais eficaz quer naquilo a que me propus quando decidi ficar em casa - educar eu os meus filhos, como a fazer alguma coisa de útil no computador, ou a estender roupa. Além disso, tenho quase a certeza, não praguejaria tanto.

3 comentários:

  1. Já li o A Morte de um Apicultor, qual é a frase?
    Bjs,
    Inês

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  2. E gostaste?

    Há várias frases (e ainda nem vou a meio) mas fixei-me naquela da comparação entre as cores e a dor: "Ao contrário do que aconteceu na percepção das cores, a linguagem não criou palavras especiais para distinguir essas diferentes sensações. [Os diferentes tipos de dor] não têm nomes próprios.

    e

    a ideia de transportarmos a dor para o que nos rodeia: "Nos meus pequenos passeios reparava que toda a paisagem nos últimos meses tinha adquirido como que uma tonalidade estranha por causa daquela dor (...) Quando passava novamente nesses sítios, nos dias em que não tinha dores, a dor parecia lá continuar, na vedação."

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  3. "Nos meus pequenos passeios reparava que toda a paisagem nos últimos meses tinha adquirido como que uma tonalidade estranha por causa daquela dor (...) Quando passava novamente nesses sítios, nos dias em que não tinha dores, a dor parecia lá continuar, na vedação."

    Totalmente verdade. A ti tb te acontece? Quando tenho insónias, por exemplo, a minha cama fica cinzenta. Ou tenho insónias porque a vejo cinzenta, não sei. Quando estou muito, muito em baixo, a forma das coisas e também as cores mudam. A minha percepção dos meus próprios movimentos fica diferente. Quando estou mesmo mal, até vejo desfocado. Quando tenho medo, vejo em amarelo. Vejo mesmo tudo amarelo. As minhas dores tb têm cores, pelos vistos.

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