Rumo a Oeste

19.6.15

Comprei o Caminhada, de Henry David Thoreau, na Feira do Livro, porque os rapazes decidiram sentar-se a pintar desenhos entre a Orfeu Mini e a Antígona. Quando vi onde estava percebi que não ia ser fácil sair dali sem um livro, mas também, quer dizer, nem sei o que parecia vir para casa só com dois livros da Bruxa Mimi.
Ali estava eu, portanto, com a Eudora Welty a chamar por mim, o Bukowski a piscar-me o olho e o Thoreau a acotovelar-me. Na verdade o livro estava destacado e com um preço de saldo muito jeitoso, mas eu andava há que tempos para ler este senhor, por causa do que o Vila-Matas disse sobre ele, não sei se n' O Mal de Montano, ou outro qualquer, porque todos os livros do escritor catalão me parecem um só. Acho que é uma coisa que os grandes escritores têm em comum, aliás.
Bom, comecei a ler o livro e fiquei logo fascinada com a teoria de que um subtil magnetismo da natureza faz com que as pessoas tendam a caminhar para Oeste, e que é também nesse sentido que a evolução da humanidade se faz.
Ora, estando eu prestes a iniciar uma caminhada para Este fiquei a pensar que, então, estou a andar ao contrário e deu-me aquele nervoso miudinho como se isto fosse um aviso. Mas depois ocorreu-me que estando na América, seguindo sempre para Oeste vamos ter à Ásia, o rumo certo, portanto. Aliás, logo a seguir o próprio do autor diz isso mesmo.
"É rumo a oeste que compreendemos a história e que nos debruçamos sobre as obras de arte e da literatura, refazendo o percurso da  raça; e é rumo a oeste que caminhamos para o futuro, com espírito aventureiro e empreendedor.O Atlântico é como o rio Letes: na sua travessia tivemos oportunidade de esquecer o Velho Mundo e as suas instituições. Se não formos bem-sucedidos desta vez, talvez reste à raça outra oportunidade de alcançar as margens do Estige; refiro-me a esse outro Letes que é o Pacífico, e que é três vezes mais largo."
Um visionário, este Thoreau (quer dizer, o homem achava que se devia trabalhar um dia por semana e descansar seis), e muito à frente do seu tempo, já que em meados do século XIX foi viver para o meio da floresta, praticando a auto-suficiência, durante dois anos. Uma experiência que ele relatou em Walden ou a Vida nos Bosques, porque na altura não tinha um blog. 

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