Cartas de Lisboa #2

19.6.17
Boas tardes (ou seja qual for a expressão mais apropriada para a situação da estimada leitora [peço desculpa aos fãs do blogue mas refiro-me apenas à minha mãe porque não há garantia de que vocês não sejam assassinos em série ou pior, apoiantes do trump, e portanto não posso afirmar que são estimados]),

Estão quase 40 graus em lisboa, portanto não prometo que o conteúdo desta carta faça muito sentido.
Na verdade, esta já é a quinta carta que te escrevo, mas entre entregas de portefólios e escolhas de áreas e a agitação natural de início de férias (que só morreu este fim de semana porque os amigos mais próximos estão fora e está demasiado calor para eu ter motivação para estar com os amigos menos próximos) acabo sempre por não as acabar. Para resumir o conteúdo das últimas 3, desenvolvi uma obssessão gigante por ABBA e descobri assim todo um novo método de lidar com raiva, tristeza, ou seja o que for (um destes dias devia gravar, porque dançar com raiva deve ser das coisas mais hilariantes que se pode observar), descobri um novo mundo em tinta da china que eu até agora odiava mas que me tem dado ótimos resultados (tipo uma tendinite no pulso por desenhar demais) e já te devo ter contado entretanto pelo querido facebook mas escolhi ir para Gravura e Serigrafia. Na semana das aulas abertas (onde se podem visitar as várias oficinas para ajudar na escolha da área), eu fui toda feliz e contente mais ou menos convencida de que queria ir para RPE à oficina de Gravura (vou esclarecer para futura referência que Gravura e Serigrafia é o nome do curso mas provavelmente vou-me sempre referir ao mesmo apenas como Gravura e mais uma vez que RPE é reprodução plástica para espetáculo ou seja cenografia e figurinos) e lixei-me. Não é que eu, finalmente mais ou menos decidida, finalmente sem crises existenciais chego à oficina de Gravura e saio quase a chorar porque não sei o que fazer da minha vida? Tive um ano inteiro tranquila com a escolha porque já tinha uma ideia mais ou menos final e uns dias antes de ter fazer a escolha é que vem a confusão? Imaginas o drama, não imaginas? Enfim, acabei por decidir seguir o meu curaçón e apesar de ainda não ter 100% de certeza que foi a decisão certa, estou confiante de que vão ser uns bons 2 anos dos quais eu vou ter muitas saudades no futuro.
Entretanto, não sei se sabes, foi-me oferecida a oportunidade de ir viajar com uma amiga a Timor. Vai ser incrível, estou farta de pensar nisso. Mal posso esperar por lhe mostrar a Areia Branca e o cristo rei, a fantástica ilha de Jaco e toda a aventura que será lá chegar e claro, Liquiça (we'll always have Liquiça). Vou é ter de visitar um casal de bêbedos e os seus dois gunas superheróis, mas olha, há sempre um preço a pagar pelas coisas boas :P
Vá, todos sabemos que não é verdade. Quer dizer, é, porque nenhum dos títulos é particularmente injusto, mas acho que não é preciso dizer as saudades que tenho vossas.
No outro dia estava a descer a rua Garret e vi um homem (senhor? gajo? rapaz? ahhhhhhh não sei) alto, de cabelo preto, a usar calças de ganga e uma t-shirt branca e com uma mochila azul às costas a entrar naquela coisinha que vai dar ao ex-escritório do Jaime e quase que corri atrás dele. Quase. Tenho mesmo muitas saudades vossas. Dos nossos almoços com ótimas conversas sejam estas filosóficas, políticas, sobre música (mais com o Jaime) ou até as conversas em que chegamos à conclusão que à exceção do Jaime tu claramente tens mau gosto em espécimes masculinos pelo menos do ponto de vista físico.

Além de traumatizados, como estão os rapazes? E o Douro, sofreu alguma consequência pelo homicídio ou o advogado disse que ele tecnicamente não sabia o que estava a fazer e safou-se?
Acho que descobrir que os bichos morreriam de qualquer das formas é das melhores coisas porque nunca me irei esquecer do ato heróico (agora inútil) do pobre Jaiminho com essas criaturas cujo nome deveria claramente ser Hitchcocks ou então aqueles-coisos-que-voam-em-Laclubar.

Um completo aparte que eu acho que devia ser mencionado, como resposta ao teu primeiro parágrafo da carta #3, é que me tenho apercebido cada vez mais que eu sou aquilo que sou graças principalmente a ti e ao Jaime. Com ele posso falar melhor depois, mas gostava mesmo que tivesses noção que não és, de todo, resumida a "uma mãe bastante depressiva, uma jornalista frustrada". És, de longe, a melhor mãe que conheço. Consegues nomear um par de mãe e filha com uma relação tão boa como a nossa? Eu não. Fizeste e continuas a fazer um ótimo trabalho em educar os teus filhos ouvindo e respeitando na mesma todos os sentimentos deles e aquilo por que estão a passar. Sim, podes não ser a pessoa mais paciente do mundo nem a mais bem-disposta. Mas é assim que gostamos (imenso) de ti, e gostava de ter palavras para descrever melhor o impacto positivo que tens em toda a gente à tua volta.

Em relação à aphantasia, acho que melhorou bastante. Desde que entrei na Arroio que consigo mais ou menos visualizar. No fundo, apercebi-me de que sempre o consegui, mas é de uma forma diferente da das outras pessoas. As minhas imagens não são muito nítidas, e raramente são coisas literais. Por exemplo, agora quando fecho os olhos e me concentro, consigo ver-vos aos quatro a jantar, mas é de uma forma muito Wes Andersoniana e a imagem não é muito clara. Pode mais ou menos ser comparado a um ecrã de cinema muito muito muito muito longe de mim. Basicamente, a escola está a ajudar-me a desenvolver ferramentas para finalmente conseguir ver o que a minha imaginação esquisita e muito ativa sempre criou. Ou então ando a ter alucinações induzidas pela atmosfera provavelmente infestada com drogas à porta da escola.

2 comentários:

  1. ... magnífica Bea, e magníficos também os que a criaram.

    _________

    Bea,
    all the best para ti, bela pessoa :)

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